domingo, 10 de abril de 2011

A Representação e as três primeiras raízes do princípio da razão.

Márcia Cristina Silva Teixeira - UNIMONTES

Shopenhauer começa sua obra com a frase: “O mundo é minha representação”. Tendo em vista que toda representação é constituída a partir do sujeito e objeto. E estes numa relação de igualdade, onde um completa o outro não existindo separadamente. Em que o objeto está para o sujeito como representação, e não como coisa em si. “Ser objeto para el sujeto y ser nuestra representación, es lo mismo. Todas nuestras representaciones son objetos del sujeto, y todos los objetos del sujeto son nuestras representación.” Portanto toda a relação dos seres vivos com os objetos do mundo, será uma relação por meio de representações. Onde o homem se destaca do animal pela reflexão.
Para tratar da representação, o filosofo propõe o que são os princípios da razão: (I) Principio da razão do devir, ou da causalidade, onde são submetidos representações do mundo, a experiência, (II) princípio de razão do conhecer, a ele é submetido as representações de representações, ou seja, conceitos, (III) principio de razão do ser, a eles são submetidas a parte formal das representações, isto é, as intuições das formas dos sentidos externos e internos dadas a priori: espaço e tempo; e por fim o que citaremos aqui, mas não entraremos em detalhes, por se tratar da questão da vontade e que não trataremos nesse momento, (IV) princípio da razão de agir, a ele está submetido o sujeito da vontade, isto é, o agir conforme a lei da motivação.
Segue aqui uma citação que esclarece a importância que Schopenhauer dá ao princípio da razão para seu pensamento filosófico:

No meu ensaio sobre o princípio de razão mostrei detalhadamente como qualquer // objeto possível está submetido a esse princípio, ou seja, encontra-se em relação necessária com outros objetos, de um lado sendo determinado, do outro determinando. (Schopenhauer, O mundo como vontade e como representação. Pág 46, 2005).


Schopenhauer busca os conceitos a partir da experiência, o pensador propõe primeiramente o empírico, no campo da experiência na relação com os objetos. Essa importância pode ser percebida no primeiro principio da razão, que é o do devir, ou seja, prioritariamente há intuição necessária com os objetos que se encontram no sensível. Numa percepção em que está contida causas e efeitos. Se trata da construção dos objetos da efetividade, em constante mudança, o próprio entendimento intue fenômenos. Aqui falamos do principio da causalidade, aquele que se aplica ao devir. Toda a percepção espaço temporal é uma seqüência, logo um devir.
Após o primeiro principio da razão; a causalidade. Trataremos do segundo principio que é o do conhecer. O homem valendo-se da razão, pode elaborar reflexões, que seria o conhecimento abstrato, e é uma das classes das representações; os conceitos. Sendo que a primeira classe é a representação intuitiva, onde encontramos o primeiro e o terceiro principio da razão. O segundo, do qual tratamos agora, é o raciocínio sobre as representações, “representações de representações”, que constroem os conceitos. Percebemos nesse sentido a relação do entendimento com a causalidade, a partir da necessidade de um conhecimento abstrato. Conhecimento este que é exclusividade do homem, embora os animais possuam o entendimento, este não tem a capacidade da reflexão. E é esta raiz do princípio da razão (do conhecer) que rege a linguagem e a forma de expressar o mundo.
Schopenhauer comungando do pensamento kantiano também propõe fundamentos a priori em sua teoria, que asseguram a relação de sujeito e objeto e seus limites.

(...) A comunidade desse limite mostra-se precisamente no fato de as formas essenciais e universais de todo objeto – tempo, espaço e causalidade – também poderem ser encontradas e completamente conhecidas partindo-se do sujeito, sem o conhecimento do objeto, isto é, na linguagem de Kant, residem a priori em nossa consciência. Ter descoberto isso é um dos méritos capitais de Kant, e bem grande. (Schopenhauer, O mundo como vontade e como representação. Pág. 46, 2005).


Compõem-se assim os fundamentos da teoria schopenhauriana a partir dos conceitos a priori propostos por Kant: espaço e tempo; que são expressos no terceiro princípio de razão, que é o do ser. Este está inserido no princípio do devir, resgatando as intuições das formas a priori, espaço e tempo. Como pensava seu predecessor, os objetos não podem ser dados sem essas duas condições de possibilidade que são destituídas de conteúdo sendo o elemento em comum de todos os fenômenos.
(...) a experiência tem antes de ser pensada como dependente dela, visto que as propriedades do espaço e do tempo, conhecidas a priori pela intuição, valem para toda experiência possível como leis com as quais, na experiência, tudo tem de concordar. Eis por que, no meu ensaio sobre o princípio de razão, considerei o tempo e o espaço, na medida em que são intuídos puramente e vazios de conteúdo, uma classe especial de representações que subsistem por si mesmas. De extrema importância é a propriedade descoberta por Kant de que justamente essas formas universais da intuição são intuiveis por si, independentes da experiência, e cognoscíveis segundo sua inteira conformidade a leis. (Schopenhauer, O mundo como vontade e como representação. Pag 47, 2005).


Depois de apresentados as três raízes primeiras do principio podemos concluir por aqui, mostrando que Schopenhauer busca com esse princípio estabelecer um método que fosse capaz de expressar como de dá o conhecimento e quais as suas leis. Destarte, percebemos então que para o filosofo; “o princípio da razão é essencial no objeto e precede a ele, e ainda é a maneira universal de todo ser objeto”. O que torna possível o ser-objeto, nada mais é que o princípio da razão, é este que assegura a correlação entre sujeito/objeto. E este princípio é fundamental, traz consigo expressões abstratas válidas para todo o conhecimento.


BIBLIOGRAFIA

SCHOPENHAUER, Arthur. "O Mundo como vontade de Representação (livro III), Crítica a Filosofia Kantiana, Pererga e Paralipomena". Coleção Os Pensadores, São Paulo, Nova Cultural, 1988.

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