sexta-feira, 3 de junho de 2011

Ciro dos Anjos

Romancista e ensaísta, Ciro Versiani dos Anjos nasceu em Montes Claros/MG, em 1906. Uma das características básicas da literatura do último século é, a partir da "morte de Deus", estabelecer as palavras de um cotidiano pequeno, onde a solidão humana encontre apenas sua inquietude e a impossibilidade de abrigo na natureza ou na sociedade. Foi assim com Beckett, com Kafka e com o Fernando Pessoa do ‘Livro do Desassossego’, por exemplo. Dentro desses parâmetros, o movimento modernista mineiro deu à luz a um de seus grandes escritores: buscando alternativas para o romance clássico e um tipo de narrativa que alargasse os limites ficcionais, Ciro dos Anjos, em seus primeiros e mais importantes livros, explora a forma do diário escrito por pessoas insignificantes, que narram suas observações do pequeno cotidiano urbano, os sonhos frustrados, o dia-a-dia de um burocrata solteiro, enfim, o que se poderia chamar de uma vida "menor" e subalterna. Se o funcionário público é um dos símbolos nacionais de uma experiência sem desafios, sem paixões e adaptada aos desumanos trâmites burocráticos, ele se adequará às tensões intimistas desse escritor que faz da literatura a única salvação possível. Obras
O Amanuense Belmiro (1937)
Abdias (1945)
Explorações do Tempo (1952)
A Montanha (1956)
A Criação Literária (1959)
Poemas Coronários (1964)
A Menina do Sobrado (1979)




Livro de estréia desse mineiro que integrou a geração modernista de 1930. De linhagem psicológica, revelando profunda influência machadiana, porta-se como observador perspicaz e contido, utiliza-se freqüentemente de uma fina ironia, do pessimismo amargo e revela-se continuador da tradição memorialista que foi comum no romance do século XIX. O crítico português Adolfo Casais Monteiro, sobre O Amanuense Belmiro diz: "uma melodia como raramente o romance no-la dá, um bafo de vida a tal ponto real que desperta imediatamente tudo o que há de mais íntimo e secreto em cada um." A primeira edição do livro data de 1936 e já consagra Ciro dos Anjos como um dos grandes prosadores da Literatura Brasileira, sendo essa sua principal obra, embora tenha escrito mais um outro romance, que recebeu o título de Abdias. O Amanuense Belmiro é narrado em primeira pessoa por Belmiro Borba, personagem central, homem tímido e sonhador, ao mesmo tempo dotado de grande capacidade de observar a si e aos outros. Solteirão e empregado de repartição pública em que era amanuense (encarregado geralmente de fazer cópias e/ou ofícios), vive em Belo Horizonte com duas irmãs mais velhas. Em uma noite de carnaval contempla uma jovem desconhecida, identificada posteriormente como Carmélia, por quem se apaixona, mas mantém-se distante, nunca revelando seus sentimentos. Paralelamente, vai seqüenciando uma série de meditações que surgem a partir de conversas com um grupo de amigos (Jandira, Silviano, Redelvim, Florêncio, Glicério). Ao mesmo tempo relembra a infância, fazendo coincidir a amada Carmélia, que ele chama de donzela Arabela, com uma antiga namoradinha. Em tudo, Belmiro refugia-se nos sonhos, nas ilusões, raramente enfrenta a realidade, é incapaz de ações incisivas. O mundo pequeno desse homem é revelado gradativamente, por meio de uma espécie de diário, em que procuraria registrar cenas do cotidiano e reflexões e recordações.

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