terça-feira, 26 de julho de 2011

Amy Winehouse

Não sabemos o que pode uma voz....

Com quais afetos ela se implica... com quais mundos ela se compõe...

Solta... Livre.... ela vai seguindo sua trilha...

Desconexa trilha...

Caminho sem acostamento e retorno... tênue linha entre o seguir ou o se jogar

Não há meio termo.... Não há paráfrase

Entre um gole e outro

Entre um sexo e outro.... criação

Entre Ela e si-mesmo.... abissal geometria da des-razão

O que pode uma voz contra a tirania da moral?

Contra a tolice.... Contra os maneirismos da convenção....

E deparamo-nos com um déjà-vu...

Uma repetição de morte sobre morte.... (Joplin, Morrisson, Cobain, Eller, Ella, Maysa, Elis, Hendrix, Amy... e outros... outros... outros...) Talvez nós, um dia?

De uma literatura escrita pela via trágica da insuficiência... da ausência

A voz foi insuficiente... o texto foi insuficiente... o som foi insuficiente...

Sensível diluição da vida... que escorria lentamente pelo tempo molecular dos segundos...

Não há mais possível...

Só esgotamento. Cansaço.

E assim... num gole e outro... num pico e outro...

Numa lágrima que escorre silenciosamente por uma face marcada pela impaciência...

Um último ar passa pelos pulmões... Um último líquido arrefece a dor...

Por um caminho que jamais retornará...

Amy, uma vida...

sexta-feira, 3 de junho de 2011

Ciro dos Anjos

Romancista e ensaísta, Ciro Versiani dos Anjos nasceu em Montes Claros/MG, em 1906. Uma das características básicas da literatura do último século é, a partir da "morte de Deus", estabelecer as palavras de um cotidiano pequeno, onde a solidão humana encontre apenas sua inquietude e a impossibilidade de abrigo na natureza ou na sociedade. Foi assim com Beckett, com Kafka e com o Fernando Pessoa do ‘Livro do Desassossego’, por exemplo. Dentro desses parâmetros, o movimento modernista mineiro deu à luz a um de seus grandes escritores: buscando alternativas para o romance clássico e um tipo de narrativa que alargasse os limites ficcionais, Ciro dos Anjos, em seus primeiros e mais importantes livros, explora a forma do diário escrito por pessoas insignificantes, que narram suas observações do pequeno cotidiano urbano, os sonhos frustrados, o dia-a-dia de um burocrata solteiro, enfim, o que se poderia chamar de uma vida "menor" e subalterna. Se o funcionário público é um dos símbolos nacionais de uma experiência sem desafios, sem paixões e adaptada aos desumanos trâmites burocráticos, ele se adequará às tensões intimistas desse escritor que faz da literatura a única salvação possível. Obras
O Amanuense Belmiro (1937)
Abdias (1945)
Explorações do Tempo (1952)
A Montanha (1956)
A Criação Literária (1959)
Poemas Coronários (1964)
A Menina do Sobrado (1979)




Livro de estréia desse mineiro que integrou a geração modernista de 1930. De linhagem psicológica, revelando profunda influência machadiana, porta-se como observador perspicaz e contido, utiliza-se freqüentemente de uma fina ironia, do pessimismo amargo e revela-se continuador da tradição memorialista que foi comum no romance do século XIX. O crítico português Adolfo Casais Monteiro, sobre O Amanuense Belmiro diz: "uma melodia como raramente o romance no-la dá, um bafo de vida a tal ponto real que desperta imediatamente tudo o que há de mais íntimo e secreto em cada um." A primeira edição do livro data de 1936 e já consagra Ciro dos Anjos como um dos grandes prosadores da Literatura Brasileira, sendo essa sua principal obra, embora tenha escrito mais um outro romance, que recebeu o título de Abdias. O Amanuense Belmiro é narrado em primeira pessoa por Belmiro Borba, personagem central, homem tímido e sonhador, ao mesmo tempo dotado de grande capacidade de observar a si e aos outros. Solteirão e empregado de repartição pública em que era amanuense (encarregado geralmente de fazer cópias e/ou ofícios), vive em Belo Horizonte com duas irmãs mais velhas. Em uma noite de carnaval contempla uma jovem desconhecida, identificada posteriormente como Carmélia, por quem se apaixona, mas mantém-se distante, nunca revelando seus sentimentos. Paralelamente, vai seqüenciando uma série de meditações que surgem a partir de conversas com um grupo de amigos (Jandira, Silviano, Redelvim, Florêncio, Glicério). Ao mesmo tempo relembra a infância, fazendo coincidir a amada Carmélia, que ele chama de donzela Arabela, com uma antiga namoradinha. Em tudo, Belmiro refugia-se nos sonhos, nas ilusões, raramente enfrenta a realidade, é incapaz de ações incisivas. O mundo pequeno desse homem é revelado gradativamente, por meio de uma espécie de diário, em que procuraria registrar cenas do cotidiano e reflexões e recordações.

terça-feira, 17 de maio de 2011

Aboliu-se o mérito e agora aprova-se a frase errada para não constranger.

Alexandre Garcia comenta o livro de português, abonado pelo MEC, que defende que não há o errado na língua portuguesa, mas o inadequado. Edição do dia 17/05/2011

Na semana passada, foi distribuído para quase meio milhão de alunos um livro de português que defende um novo conceito sobre o uso da língua portuguesa. Não teria mais certo ou errado, e sim adequado ou inadequado, dependendo da situação. O Ministério da Educação esclareceu que a norma culta da língua portuguesa será sempre a exigida nas provas e avaliações.

Quando eu estava no primeiro ano do grupo escolar e falávamos errado, a professora nos corrigia, porque estava nos preparando para vencer na vida. É notório que o conhecimento liberta, forma eleitores e contribuintes conscientes, gente que cresce e faz o país crescer.

É notório que o conhecimento vem pela educação na escola, em casa e na vida. E é óbvio que a raiz de tudo está na capacidade de se comunicar, na linguagem escrita que transmite e difunde o conhecimento e o pensamento. Isso é o que diferencia o homem dos outros animais.

A educação liberta e torna a vida melhor, nos livra da ignorância, que é a condenação à vida difícil. Quem for nivelado por baixo terá a vida nivelada por baixo.

Pois, ironicamente, esse livro se chama “Por uma vida melhor”. Se fosse apenas uma questão linguística, tudo bem, mas faz parte do currículo de quase meio milhão de alunos. E é abonado pelo Ministério da Educação. Na moda do politicamente correto, defende-se o endosso a falar errado para evitar o preconceito linguístico.

Ainda hoje, todos viram o chefão do FMI algemado. Aqui no Brasil, ele não seria algemado porque não ofereceria risco. No Brasil, algemas constrangem os detidos. Aqui, os alunos analfabetos passam automaticamente de ano para não serem constrangidos. Aboliu-se o mérito e agora aprova-se a frase errada para não constranger.

A Coreia saiu arrasada da guerra através de duas ou três décadas de educação rígida. A China, que há poucos anos estava atrás do Brasil, sabe onde está indo a razão de 10% ao ano do PIB: com educação rígida, tradicional, competitiva e premiando o mérito. Aqui, estamos apontando para o sentido contrário.

Alexandre Garcia Jornalisa da Rede Globo

quinta-feira, 14 de abril de 2011

Em Análise

Ao entrar em análise é impressionante a quantidade de coisas que surgem, principalmente os não ditos. O processo é importante para a minha formação, mas também para a minha vida. Tenho a sensação de que as palavras saem sozinhas. Falo tanto que acho 50 min não são suficientes. Ainda estou no começo, mas já percebo alterações, como um alívio, como se estivessem tirando um peso. Daí tem surgido várias reflexões sobre minha vida. Como as relações familiares ainda possuem um forte peso em minha vida, se sou o que sou basicamente pelas minhas vivências. Será que não existem aspectos próprios? Eu acredito que sim, mas tenho ponderado muito sobre essa questão, e outras mais.
Tenho que me compreender para compreender o outro. Não é simples como parece. Cada um de nós carrega uma história de vida muito complexa e, para podermos entrar no mundo do outro, temos que estar bem conscientes do nosso. Apesar de ter tido uma história “tranqüila”, “normal”, ainda assim sou um ser cheio de falhas e faltas como todo mundo. Tenho minhas neuroses e obsessões. Tenho muito o que trabalhar para acalentar minhas angústias. Tenho que controlar essa minha cede de vida, quero tudo ao mesmo tempo, quero sempre mais e não é assim que a vida funciona.
Freud acaba com o nosso narcisismo ao falar da falta que constitui o ser humano, e que é por isso que vivemos procurando por preenche - lá. Indago-me qual será o tamanho da minha falta? Será tão grande que jamais encontrarei um falo parcial para pelo menos diminuir essa angústia? Porque falos completos não existem na realidade, só na mitologia, principalmente em “Totem e Tabu”, onde existe o Grande Pai, cujo não é castrado. Para nós seres castrados pela grande Lei, temos que nos contentar com os falos parciais. Com a grande falta, será que minha castração foi tão grande assim? Será que isso me imobiliza tanto?
O que mais me mata é minha impotência diante da vida. Como já passei próximo da morte tenho plena consciência da finitude de nossas vidas e isso só funciona como o vento em uma queimada, inflamando ainda mais minha cede. Não sei se isso é bom ou ruim ainda, pois como tudo possui dois lados.

Autora: Cecília Tupynambá Guimarães - Piscologia - Puc Minas